Medidas do governo Trump afetam exportações brasileiras e pressionam setores estratégicos, avalia especialista
Durante o programa Conexão Imbiara Economia e Negócios, da Rádio Imbiara 91,5 FM, um dos apresentadores da atração, o economista Sílvio Gonçalves, comentou sobre a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, em decisão tomada pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump. A medida, no entanto, foi adiada para entrar em vigor no dia 6 de agosto e veio acompanhada de uma extensa lista de exceções.
“Olha só, ele impôs a tarifa, mas com várias exceções. São 694 produtos que ficaram de fora, entre eles sucos de laranja, castanhas, celulose, aeronaves, petróleo, fertilizantes... Ou seja, produtos de peso”, explicou Sílvio. “A Embraer, por exemplo, deu um pulo de alegria, porque poderia ser muito prejudicada.”
De acordo com estimativas da Câmara Americana de Comércio (Amcham), os produtos isentos da tarifa representam cerca de 43,4% das exportações brasileiras para os EUA, o equivalente a R$ 110 bilhões.
Entretanto, setores importantes, como os de carnes, café, frutas e pescados, serão atingidos pela nova alíquota. Para o comentarista, o impacto pode ser sentido no Brasil de forma inesperada.
“A curto prazo, a tarifa pode até ajudar a inflação, porque vai sobrar produto no mercado interno. Com mais oferta, o preço tende a cair. Mas, a longo prazo, a gente precisa ver como os produtores vão reagir. Eles vão buscar outros mercados: China, Oriente Médio, América do Sul...”
Sílvio também destacou o impacto sobre o emprego e a necessidade de atenção às possíveis reações do governo brasileiro:
“As empresas estão dizendo que vão ter prejuízo, que já pensam em demitir. E aí o governo vai ter que agir. Mas como? Já está extremamente endividado. E esse endividamento, aliás, é um dos fatores que mantém a taxa Selic tão alta.”
Apesar da tensão no cenário externo, os indicadores domésticos trazem alguma estabilidade. O IBGE divulgou recentemente a nova rodada da PNAD Contínua, que mostra uma taxa de desemprego de 5,8% no trimestre encerrado em junho — a menor desde o início da série histórica, em 2012.
“Para os padrões brasileiros, isso é considerado pleno emprego. É claro que, comparado com os Estados Unidos, onde o desemprego está entre 2,5% e 3%, ainda temos muito a melhorar. Mas é um sinal positivo, mostra resiliência do mercado de trabalho”, disse Sílvio Gonçalves.
Mesmo com o dado animador, o economista faz um alerta.
“Nada é isolado em economia. Temos inflação, bandeira vermelha na conta de luz, dólar instável, cenário político conturbado. A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) foi correta, mas agora o governo vai ter que administrar todas essas pontas.”
A decisão comentada por Sílvio Gonçalves é a de manter, de forma unânime, a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano, encerrando oficialmente o ciclo de altas iniciado em setembro do ano passado. A decisão, anunciada nesta semana, sinaliza uma interrupção temporária nos ajustes, após sete reuniões consecutivas de elevação.
Segundo o comunicado divulgado pelo Copom, o cenário doméstico e internacional continua desafiador. A inflação segue pressionada, e a taxa de juros é utilizada como instrumento de contenção. A ata completa da reunião será publicada na próxima semana.
Impactos e desafios
As novas tarifas norte-americanas se inserem em um contexto mais amplo de política comercial agressiva. Além do Brasil, Trump também anunciou recentemente novas tarifas: 25% sobre o cobre chileno e 15% sobre produtos indianos. O governo brasileiro acompanha o impacto da medida e poderá ser pressionado a adotar ações de compensação para os setores prejudicados, inclusive com pedidos de subsídios.
Especialistas alertam, porém, para os limites fiscais do país. O alto endividamento público tem sido um dos principais fatores que sustentam os juros elevados. Em meio a esse cenário, o governo terá de equilibrar o apoio aos setores exportadores com a necessidade de manter a responsabilidade fiscal.