Com rotina intensa, excesso de informação e uso excessivo das telas, população vive sintomas de ansiedade, estresse e até apagões mentais
Com o celular sempre ao alcance das mãos e o relógio marcando pressa o tempo todo, não é difícil encontrar alguém em Araxá que diga estar cansado – mesmo sem ter feito esforço físico algum. A rotina exaustiva da vida moderna tem cobrado um preço alto da saúde mental, e os impactos vão muito além do estresse. Durante participação no Imbiara Notícias desta segunda-feira (21), na Rádio Imbiara, o médico pós-graduado em psiquiatria, João Sacramento explicou como esse estilo de vida vem afetando nossa concentração, sono, humor e até a memória.
“Chega no fim do dia, a pessoa não tem energia para fazer o que gosta, e aí acaba se refugiando no próprio celular, o que esgota ainda mais”, observa. Segundo ele, vivemos hoje em um ciclo vicioso: quanto mais conectados, mais sobrecarregados. E, com isso, a mente perde sua capacidade de desacelerar, prejudicando funções básicas, como o sono e a atenção.
A falsa sensação de produtividade
João afirma que o excesso de tarefas, notificações e informações leva o cérebro a um estado de alerta constante. “É um tipo de estresse crônico. A gente está sempre esperando algo: uma mensagem, uma reunião, uma cobrança. E muitas vezes recebemos conteúdos que nem dizem respeito à nossa realidade, mas que provocam preocupação e desgaste emocional”, destaca.
Esse ritmo também impacta a memória. A mente, acostumada com vídeos curtos, áudios rápidos e notificações o tempo todo, passa a ter dificuldade de focar e guardar informações por mais tempo. “Estamos perdendo a capacidade de aprofundar. As memórias que ficam, muitas vezes, são superficiais, como trechos de vídeos virais, enquanto aquelas realmente importantes não são exercitadas.”
Sintomas silenciosos
O esgotamento mental, segundo o médico, pode se manifestar de forma sutil, como esquecimentos frequentes, dificuldade de concentração ou perda do interesse por atividades prazerosas. Com o tempo, isso pode evoluir para quadros mais graves, como ansiedade, depressão e até a chamada síndrome de burnout – quando a exaustão está diretamente ligada ao ambiente de trabalho. “Tem gente que só consegue fazer o que é obrigação. O lazer e o prazer são os primeiros a ir embora”, alerta João.
Em casos mais extremos, ele destaca que podem ocorrer até "apagões mentais", momentos em que a pessoa simplesmente não sabe o que está fazendo ou como chegou a determinado lugar. No público idoso, esse sinal pode indicar o início de uma demência e deve ser investigado com atenção.
A insônia como termômetro
Outro sintoma comum da sobrecarga mental é a insônia. O problema, segundo João, raramente aparece sozinho e costuma estar associado a quadros de ansiedade ou depressão. “É difícil dormir quando o cérebro está em estado de alerta. A gente termina o dia resolvendo pendências e, quando deita, continua ruminando pensamentos. O corpo para, mas a mente não desliga.”
Para aliviar esse quadro, o especialista recomenda adotar práticas que fazem parte da chamada higiene do sono, como evitar telas antes de dormir, reduzir as luzes do ambiente e buscar atividades relaxantes no fim do dia. “É importante desacelerar, criar um ritual que sinalize para o corpo que é hora de descansar.”
Crianças e adolescentes: atenção redobrada
Se o mundo digital já sobrecarrega os adultos, o impacto entre crianças e adolescentes pode ser ainda mais preocupante. Nascidos e criados nesse ambiente de hiperconexão, os jovens são ainda mais vulneráveis. “Eles passam horas nas telas, muitas vezes acessando conteúdos inadequados ou participando de grupos perigosos. Além disso, enfrentam ansiedade, dificuldades de socialização e, em alguns casos, até quadros depressivos”, explica João.
Ele ressalta que é essencial observar mudanças de comportamento, tanto em adultos quanto em crianças. E reforça que, quando algo não vai bem, o ideal é buscar ajuda profissional. “A saúde mental precisa ser cuidada com a mesma atenção que damos à saúde física. E o primeiro passo é entender que desacelerar não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria.”