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Postado em: 17/10/2023 - 08:26 Última atualização: 17/10/2023
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O Brasil está indo bem!?

Silvio Gonçalves de Souza – economista com pós-graduação em gestão e consultor empresarial

Já estamos na metade do primeiro mês do último trimestre de 2023. São quase 300 dias percorridos, e uma pergunta natural pode ser colocada para reflexão: o Brasil está indo bem ou não? O título é finalizado propositalmente com pontos de exclamação e interrogação, porque esse não é um exercício simples de fazer, principalmente quando a abordagem não tem conotação ideológica. O objetivo é meramente técnico e com o propósito de provocar uma avaliação isenta, haja visto que já estamos nos aproximando do final do ano.

Conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no dia 29 de setembro, através da pesquisa PNAD Contínua, a taxa de desemprego no Brasil ficou em 7,8%, considerando-se o trimestre móvel encerrado em agosto. Houve uma queda de 0,5 ponto percentual (p.p.) com relação ao trimestre móvel anterior, finalizado em maio. Além disso, foi a menor taxa desde fevereiro de 2015, que foi de 7,5%. Se a comparação for feita com o mesmo período de 2022, a taxa de desemprego recuou 1,1 p.p. Em um ano, o mercado de trabalho absorveu 1,3 milhão de novos trabalhadores.

A inflação oficial de setembro, medida pelo IPCA, índice calculado pelo IBGE, foi de 0,26%, um pouco acima de agosto, que foi de 0,23%. Com isso, a inflação anualizada chegou a 5,19%. Esse indicador está bem acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3,25% (centro da meta), e também supera o teto, que é de 4,75%. Os combustíveis, principalmente o diesel, seguido pela gasolina, têm sido os grandes vilões. A guerra entre Israel e o Hamas pode colocar mais lenha na fogueira, uma vez que a cotação do petróleo está prestes a superar a casa dos US$90 o barril (Brent) e pode atingir rapidamente os três dígitos. No lado oposto, estão os alimentos e bebidas, que vêm registrando deflação nos últimos meses.

A inflação está com uma pequena sinalização de alta, e isso pode influenciar as decisões do Comitê de Política Monetária (COPOM) a respeito da taxa Selic. Não nas duas próximas reuniões, em que deverá ocorrer uma redução escalonada de 1 p.p. na taxa. Mas se constituirá num viés sobre a sua definição no próximo ano. Mesmo com esse comportamento, a inflação desse ano será menor que a do ano passado, quando o IPCA foi de 5,59%, embora tenham sido registradas deflações em julho, agosto e setembro, provocadas pelas desonerações promovidas pelo governo nos preços dos combustíveis. Em 2021, a taxa havia sido de 10,06%.

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, segundo os analistas de mercado e economistas, deve crescer próximo de 3% nesse ano. O resultado será igual ou um pouco melhor do que o do ano passado, quando houve uma evolução de 2,9%, chegando a uma magnitude próxima de dez trilhões de reais. Em 2021, o Brasil cresceu 5%, graças à necessária dose cavalar de gastos públicos, incentivos fiscais e juros subsidiados para atenuar os efeitos terríveis da pandemia do novo coronavírus sobre a economia, que em 2020 havia levado um tombo de 4,1%, quando o mundo se curvou a essa horrível catástrofe sanitária.

O ótimo desempenho do PIB em 2023 está sendo puxado pela agropecuária, que cresceu 17,9% no primeiro semestre em comparação com o mesmo período de 2022, ao passo que a indústria cresceu apenas 1,7% e os serviços 2,6%.

Para que o país possa crescer de forma sustentável e contínua, é consenso que reformas estruturais devem ser feitas. Uma delas, a reforma tributária, ainda está sob a apreciação do Senado Federal e deverá passar por modificações, exigindo que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) seja devolvida para a Câmara dos Deputados. Em seguida, ela voltará para o Senado, para que até o final desse ano seja aprovada em todas as instâncias legislativas e executiva. A discussão que tem sido travada junto à opinião pública é a respeito do tamanho do IVA – imposto sobre valor agregado – que, apesar de ser chamado de único, na verdade será dual. Como já estamos acostumados com uma carga tributária altíssima, as expectativas não são nada alentadoras.

O arcabouço fiscal, que substituiu o teto dos gastos, entrando em vigência no dia 31 de agosto, não tem afastado a desconfiança do mercado de que o governo está mais disposto a aumentar a sua arrecadação fiscal do que propriamente reduzir os seus gastos e o tamanho da máquina pública, o que tem um impacto direto sobre as taxas de juros, dado o alto endividamento público e déficits que dificilmente serão estancados em 2024. O Banco Central (Bacen) informou no último dia útil de setembro, que a dívida bruta do Brasil registrou uma alta em agosto, com o setor público consolidado (governo central, estados, municípios e estatais) apresentando déficit primário.

Pelo lado positivo, o Bacen melhorou a sua estimativa de crescimento do PIB para 2,9% em 2023, ante uma previsão de elevação de 2% feita em junho. A autarquia previu também que a nossa balança comercial terá um superávit de US$68 bilhões neste ano, contra uma estimativa anterior de US$54 bilhões. O banco fez uma projeção de que nesse ano haverá um crescimento de 9,9% na concessão de crédito para as famílias e de 3,4% para as empresas. 

Diante do exposto acima, cabe a cada um, indivíduo ou empresa, tirar as suas próprias conclusões e fazer suas projeções. E não se esquecendo de levar em conta que em economia é difícil chegar-se a uma análise contundente e irrefutável sobre os indicadores econômicos, considerando que estamos expostos a fatores internos, altamente influenciados por decisões das autoridades governamentais, e a fatores externos, como o desempenho das grandes economias, as decisões das autoridades financeiras internacionais e a fatores perversos como as guerras regionais, que trazem impactos globais.

Silvio Gonçalves de Souza – economista com pós-graduação em gestão e consultor empresarial

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