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Postado em: 04/08/2023 - 08:27 Última atualização: 04/08/2023
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Endividamento não é ruim, desde que planejado

Silvio Gonçalves de Souza – economista com pós-graduação em gestão e consultor empresarial

Uma empresa pode ter diversos objetivos. Os mais comuns estão ligados à sua atuação e crescimento no mercado; à construção da sua marca; ao desenvolvimento de novos produtos, tecnologias e serviços; ao crescimento das suas vendas. A depender do segmento ou ramo em que ela atua, esse leque pode ser ainda maior e diversificado.

 

A definição de questões estratégicas, como missão, visão e valores, está na base de um planejamento que, não necessariamente, precisa ser propriamente estratégico. Porém, é inconcebível que uma empresa não possua, mesmo que de forma resumida, objetivos e metas pelo menos para os próximos meses. As metas mais comuns são as de faturamento, estoques, quantidade de atendimentos, nível de produção, crescimento de mercado (quantidade de clientes da carteira) e ticket médio.

 

Quando nos referimos à definição de objetivos e metas, nos remetemos a alguns ensinamentos e práticas do mundo corporativo e das palestras motivacionais, que se originaram de reflexões e criações de pessoas afeitas ou não à rotina de uma empresa. Uma frase célebre e de grande sabedoria foi criada por William Edwards Deming, estatístico, palestrante e consultor americano, considerado o pai da qualidade total: “O que não é medido, não pode ser gerenciado”. Outra frase emblemática, e que deve ser lembrada por qualquer empresário ou gestor, é atribuída à Seneca, filósofo do período do Império Romano: “Não há vento favorável para aquele que não sabe aonde vai”.

 

Além de estabelecer objetivos e metas como os mencionados acima, a empresa precisa se ater a indicadores econômico-financeiros, como lucratividade, rentabilidade, índices de liquidez, giros de estoque, turnover, inadimplência e, também, ao seu grau de endividamento. E quando esse último indicador é colocado em pauta, cria-se um certo ar de preocupação, incerteza e, até mesmo, constrangimentos. Fazendo-se um paralelo com a definição de objetivos e metas da área comercial e de produção, o mesmo deve ocorrer no âmbito da gestão financeira do negócio, abrangendo a obtenção de recursos financeiros de forma adequada e oportuna.

Os ativos de uma empresa, chamados de fixos e circulantes, proporcionam a ela a execução das suas operações e a obtenção do tão desejado e necessário lucro. Estes ativos podem ser financiados com o capital próprio e de terceiros. A utilização de capital de terceiros é uma prática bastante disseminada no mundo empresarial, uma vez que amplia o horizonte do negócio, viabilizando a melhoria do seu funcionamento e expansão. Depender apenas do capital próprio pode limitar os planos de crescimento e sobrevivência de uma empresa.

O uso do capital de terceiros, que se dá comumente através do acesso às linhas de crédito e financiamento oferecidas por bancos, financeiras e cooperativas de crédito, não é algo que deve ser encarado pelo empresário como sintoma de um estado de vulnerabilidade, carência ou incompetência. A não ser que se recorra a esse expediente somente quando a empresa está com deficiência crônica de capital de giro. É importante observar que a utilização de capital de terceiros deve atender a duas premissas básicas: o seu custo deve ser compensador e o volume ou dosagem deve ser de tal magnitude que limite o nível de risco da empresa.

Um conceito utilizado em finanças é a chamada alavancagem financeira, que é o parâmetro que indica a relação entre a variação da rentabilidade do capital próprio investido e a variação da rentabilidade do investimento total com o uso também de capital de terceiros. Uma empresa alavancada é aquela que utiliza capital de terceiros para auxiliá-la a bancar os seus investimentos e custeio. De acordo com o resultado econômico decorrente do seu grau de endividamento, tem-se uma alavancagem financeira positiva ou negativa. Ocorre uma alavancagem positiva quando a utilização de capital de terceiros gera uma rentabilidade do capital próprio maior do que a rentabilidade do investimento que seria feito apenas com recursos próprios. Por outro lado, se a rentabilidade for menor do que se obteria sem o uso de capital de terceiros, a alavancagem é negativa.  

Feitas essas considerações, pode-se concluir que o endividamento de uma empresa, por si só, não indica necessariamente uma situação de risco ou de comprometimento da sua rentabilidade. O que é importante considerar é que o recurso externo, mesmo não tendo o menor custo do mercado, até porque as taxas ofertadas pelas instituições financeiras são seletivas, pode ser obtido em condições que permitem à empresa expandir o seu negócio, ampliar as suas vendas e obter margens de lucro mais favoráveis. Entretanto, vale sempre lembrar que a decisão de recorrer ao mercado financeiro ou a entes não financeiros deve ser precedida de um planejamento financeiro, alinhado ao planejamento estratégico da empresa. 

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