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Postado em: 20/07/2023 - 08:33 Última atualização: 20/07/2023
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O efeito específico da inflação na vida de cada brasileiro

Silvio Gonçalves de Souza – economista com pós-graduação em gestão e consultor empresarial

A inflação brasileira continua desacelerando. O IBGE divulgou na semana passada, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do mês de junho, que foi de -0,08%, marcando a primeira deflação desse ano. A tendência é que a média geral de preços da nossa economia continue em declínio.

Quando eu me refiro a esse fenômeno, como o indicador da evolução de uma média geral de preços, estou chamando a atenção para uma questão que pode passar despercebida por grande parte das pessoas. A inflação é o crescimento médio ponderado dos preços de uma cesta ampla de bens e serviços num determinado período. Ou seja, produtos como alimentos e bebidas, por exemplo, podem ter aumentos de preços iguais de um período para o outro, porém, ter impactos diferentes no cálculo do índice final. O leite pode subir 10% de um mês para o outro e o mesmo ocorrer para o azeite. Entretanto, o percentual registrado para o leite pesará mais no cálculo final da inflação. O mesmo pode ser dito para uma situação inversa. O preço do leite pode cair 10% e o do azeite também, porém a evolução negativa no preço do primeiro vai ter um efeito redutor maior do que o do segundo no índice. Esse é um dos fatores que explicam a percepção de que a inflação pode estar maior ou menor do que de fato é divulgado pelos institutos que a medem, como o IBGE, FGV e FIPE/USP, dentre outros.

A dona de casa vai ao supermercado para comprar alimentos e percebe que o tomate subiu 10%, o leite subiu 5% e o óleo de soja caiu 3%, por exemplo. Ela fica com a sensação de que a inflação não é somente 0,5% ou 1% no mês, conforme divulgado nos jornais. É natural que ela não saiba ou entenda que o índice de inflação abrange uma infinidade de bens e serviços, como alimentos, bebidas, planos de saúde, mensalidade escolar, água, luz, telefone, combustível, passagens aéreas etc. E que cada um desses itens tem um peso específico no cálculo do índice. Assim, uma determinada gama de alimentos que ela compra normalmente pode apresentar uma alta expressiva nos preços, ao passo que outros itens, como gasolina, material escolar, plano de saúde e cosméticos tenham quedas de preços ou aumentos mais baixos do que destes alimentos. E isso puxa a inflação para baixo ou, até mesmo, provoca o fenômeno da deflação. E a dona de casa pode até nem ter carro, filhos na escola, plano de saúde e usar apenas produtos básicos para a sua higiene pessoal.

Outra questão importante a se destacar, é que os índices de inflação são calculados, normalmente, em determinadas regiões metropolitanas, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e em outras capitais. A dona de casa citada acima pode morar em Uberlândia, Londrina ou Catalão, onde os preços dos bens e serviços podem ter comportamentos diferentes. O IPCA, divulgado mensalmente pelo IBGE, abrange dez regiões metropolitanas, cinco capitais, como Goiânia e Campo Grande, além de Brasília. Ele é o índice oficial da inflação brasileira e é calculado dentro de cada mês. O IPCA-15 tem o mesmo propósito, áreas de abrangência e metodologia de cálculo, porém, considera o comportamento dos preços do dia 15 de um mês ao dia 15 do mês seguinte. Por isso, ele é tido como a prévia da inflação oficial e permite que se tenham avaliações mais frequentes da evolução dos preços.

Além do IPCA e IPCA-15, outros índices de inflação são divulgados mensalmente, com metodologias diferentes, como o IGPM, da FGV, que é muito usado na correção dos contratos de locação de imóveis, e o INCC (Índice Nacional da Construção Civil), também calculado pela FGV, que subiu 0,85% em junho. Esse índice também é utilizado na correção de contratos de aluguéis. Se a nossa dona de casa morar em imóvel alugado, o contrato estiver no momento de ser renovado e o índice pactuado for o INCC, ela vai entender ainda menos porque a inflação está caindo, uma vez que o seu aluguel vai subir 3,44%, quando a inflação oficial do período foi de 3,16%.

Um outro fator importante para explicar essas discrepâncias, é a faixa de renda que é considerada por cada índice. O IPCA leva em consideração os gastos de famílias que ganham até 40 salários mínimos mensais. Um outro índice, também calculado pelo IBGE, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), considera os gastos de famílias que ganham de 1 a 5 salários mínimos. Esse índice teve uma evolução de 3% nos últimos dozes meses, um pouco abaixo do IPCA e ainda mais baixo do que o INCC.

Voltando à questão do peso que cada bem e serviço têm nos cálculos dos índices inflacionários, tomemos como exemplo o gás de cozinha, que é considerado no grupo de habitação, e as passagens de ônibus e trens urbanos, no de transporte. Esses dois itens têm um peso maior a ser considerado no INPC. Por outro lado, os valores dos combustíveis e automóveis têm maior impacto no IPCA.

Diante dessa complexidade e divergências metodológicas na apuração desses índices de preços, vale a sugestão de que cada pessoa calcule a sua própria inflação e, com isso, administre melhor o seu orçamento. Para isso, basta criar uma planilha de Excel com todos os gastos recorrentes e ver qual foi a variação total do gasto de um mês para o outro, mantendo-se o mesmo volume de compras. O percentual de variação encontrado, para baixo ou para cima, será a sua real inflação.

Silvio Gonçalves de Souza – economista com pós-graduação em gestão e consultor empresarial
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