O laboratório do Exército produz cloroquina para ser aplicada pelos militares do setor médico nas populações que necessitem tratamento contra a malária, especialmente em fronteiras da região norte e aldeias ribeirinhas da Amazônia.
Antes da chegada do coronavírus ao Brasil no início de 2020, a ultima solicitação feita na produção do medicamento tinha sido em março de 2017, ao custo de R$ 43.400,00 na compra de 259.470 comprimidos, quantidade que foi suficiente para cumprir a demanda nos anos de 2018 e 2019, segundo informou o Exército.
Em março de 2020, no início da pandemia no Brasil, o laboratório do Exército gastou mais de R$ 1 milhão na produção de mais de três milhões de comprimidos de cloroquina, estoque que teve, por parte do governo federal, imediata indicação para o combate ao coronavírus, apesar de ter sido considerado ineficaz nesse uso pela Organização Mundial da Saúde, que o recomenda para tratamento de malária, lúpus e artrite reumatóide.
Em vez de promover ações de combate ao coronavírus com base na orientação da ciência, o governo federal iniciou ampla divulgação da cloroquina como o remédio que seria a salvação contra a pandemia. E ainda juntaram, à sua indicação, medicamentos usados para exterminar piolhos e expulsar lombrigas, tudo sob o nome batizado de "tratamento precoce".
Agora, no início de junho, quando o Brasil já registra 17 milhões de casos e 480 mil mortes, a cloroquina que ficou encalhada em março de 2020 - porque a alta produção tornou desnecessária sua aplicação só no tratamento da malária a que tinha sido destinada - continua sendo apregoada para combater o coronavírus. A tropa de choque dos desinformados e negativistas estimula seu uso, em vez de defender as medidas sociais e sanitárias corretas no combate ao contágio do vírus.
Apesar do medicamento não ser indicado e governos estaduais e municipais o desaconselharem, em Araxá, a tropa de choque da cloroquina pressiona o prefeito para incluir sua indicação no programa oficial da saúde pública, sugerindo o uso e facilitando sua distribuição. Em entrevista ao programa Imbiara Notícias na quinta-feira, dia 10 de junho, a secretária Municipal de Saúde descartou a possibilidade de qualquer empenho por parte da administração na oferta da cloroquina, dizendo que o povo não pode ser usado como cobaia no experimento do remédio.
A declaração da secretária deve ter enfraquecido o entusiasmo e as intenções dos que pretendem empurrar para a população a cloroquina que ficou encalhada. -
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Os números, valores e datas acerca da produção da cloroquina informados na matéria foram publicados pelo jornal O Estado de São Paulo na edição de 3 de junho, página 14 do caderno A, e segundo o jornal constam de documento entregue ao Ministério da Defesa para uso na CPI da Covid do Senado.